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O estapafúrdico mundo da língua Portuguesa e os pontapés na gramática.
Salur acordou de manhã, mais uma manhã fria e húmida na aldeia de Bitouriv no alto das montanhas de AAllanguur, pegou na sua espada e começou a praticar os movimentos que o pai lhe ensinara, corte de alto a baixo cruzado, roda o pulso, baixo para cima cruzado, roda o punho, varrimento horizontal, roda o punho, varrimento horizontal para o lado contrário, roda o punho, estocada, roda a lâmina, recolhe, passo a trás, defesa baixa, defesa alta, dobra o joelho, defesa sobre a cabeça, salta e um alto a baixo com a espada a ficar cravada no chão e repete, repete até os movimentos ficarem mais fluidos, mais rápidos, mais fortes.
Apesar do o tempo estar frio e cinzento, Salur estava só de calções e botas, o seu corpo suava e pingava para o chão coberto de neve que ia caindo, os movimentos repetitivos prosseguiam, um atrás do outro, fluíam cada vez mais, mas ainda tinha muito para aprender, muito que praticar e pouco tempo a perder.
No horizonte o dia aproximava-se do fim, a noite estava a chegar e era tempo de parar, secou o suor e foi para casa, amanhã seria outro dia, mais um dia para treinar e ficar melhor e mais forte, desde que perdera os seus pais num ataque sangrento à sua aldeia que Salur se isolou e passava os dias a treinar, alimentado pela raiva de ter sido impotente para impedir a morte de da sua família a forma como ficara escondido com medo do inimigo, enquanto o seu pai lutava, rodeado de corpos caídos a seus pés até que uma lança se cravou no seu peito, empalando-o cobrindo de vermelho a neve a seus pés, Salur não reagiu, nada fez, chorou apenas, depois viu a sua mãe ser arrastado pela neve e a ser levada para o meio da rua onde os inimigos a despiram e a amarraram de pernas e braços abertos, assim como a outras mulheres da aldeia e as violaram e lhes batiam até se cansarem delas o que demorou dias, enquanto comiam e bebiam, no sitio onde a sua mãe o escondera viu tudo, chorou tudo, mas nada fez, nada, apenas chorava.
Quando finalmente se foram embora correu para a sua mãe, mas a mesma estava morta, ainda amarrada de pés e mãos, mas falecera das feridas no seu corpo e do frio, assim como as restantes, procurou por sobreviventes mas ninguém encontrou, sozinho enterrou todos os mortos, passou dias a cavar sepulturas e enterrou todos, começando pelos seus pais, depois começou o seu treino intensivo e é só isso que tem feito enquanto à luz, treino e mais treino.
Entrou em casa e sentou-se à lareira, acendeu o fogo onde um caldeirão assentava sobre a madeira que agora ardia, pegou em pão duro e uma malga e sentou-se à mesa à espera, assim que o caldeirão começou a fumegar retirou uma concha do seu conteúdo e comeu com toda a fome que tinha, e repetiu até saciar a mesma, retirou o caldeirão do fogo e colocou-o a um canto, depois deitou-se, a sua cama estava em frente à lareira, cobriu-se com as peles de Bellerofante e sucumbiu ao cansaço!
Com o passar dos anos Salur tornou-se mais forte, mais ágil, nos dias em que não treinava, ia caçar, ou ia buscar lenha, percorria quilómetros para encontrar comida ou lenha devido à zona árida onde vivia, com o tempo largou a aldeia e subiu ainda mais a montanha, tornando-se um eremita, a razão é porque a aldeia voltou a ter gente, voltou a ter pessoas, pessoas que fugiam das cidades devidos aos conflitos começaram a povoar as aldeias desertas nas montanhas, Salur não gostava da companhia e por isso subiu ainda mais a montanha, lá bem no alto construiu a sua nova casa sozinho, transportando madeira por quilómetros a pé, carregando-a ás costas montanha acima, fez o seu próprio barro com que isolou a casa, olhando hoje para Salur já ninguém o conhecia, tinha mais de 1.90 metros de altura, e uma barba e cabelo que nunca tinham sido cortados, o corpo era extremamente musculado envergando uma força inumana, mas tinha apenas 22 anos, não mais, estava só à 16, recordava sempre aquela noite acendendo uma tocha bem no alto da montanha mais alta em todos os aniversários da morte de toda a sua família e ficava lá sentado ao frio toda a noite à espera de um sinal.
Hoje era uma dessas noites, a tocha ardia no cume e ele ali estava sentado em silêncio, em baixo, muito em baixo a sua aldeia natal via-se hoje mais do que nos outros dias, estava mais iluminada, olhou com mais atenção e reparou que a aldeia ardia, com toda a rapidez, levantou-se, pegou na sua espada e desceu a montanha a toda a velocidade, ao chegar a aldeia um grupo de cavaleiros atacava a aldeia, havia corpos de aldeões pelo chão, montavam cavalos negros como a noite e vestiam-se todos de negro, eram quase impossível contá-los, mesmo assim pareciam mais de 30, viram-no e um cavaleiro correu na sua direção, atacando-o, Salur num movimento rápido da espada cortou a cabeça do cavalo e o homem que o atacava ao meio caindo os dois nas suas costas, enquanto que as partes decepadas caíram a seu lado, os outros cavaleiros viram e atacaram, Salur saltou para cima do primeiro cavalo que o atacava cravando a sua espada na cabeça do homem, depois saltou para o do lado cortando um outro cavaleiro a meio no movimento e pontapeando no peito o cavaleiro do cavalo para onde agora saltara, depois saltou para o chão e esperou por mais no meio da estrada, coberto de sangue dos seus inimigos.
Uma voz do passado gritou para os outros, “Vamos, esta gente não tem nada!”
Salur olhou-o e correu na sua direção, mas os cavaleiros foram mais rápidos e saíram do seu alcance, coberto pela raiva quis segui-los mas foi despertado pelo choro de crianças atrás de si, primeiro ajudar os vivos, depois enterrar os mortos, depois o cavaleiro negro morrerá!
Salur gritou a plenos pulmões, era a primeira vez que falava em 16 anos.
- Vais morrer porco, vais morrer!